sábado, 2 de janeiro de 2016

"AS FACÇÕES JUDAICAS NO TEMPO DE JESUS. /FARISEUS/ SADUCEUS/ ESSÉNIOS/ ZELOTES/ SAMARITANOS/ HERODIANOS.

OS FARISEUS: Em geral, atribui-se o surgimento do farisaísmo ao período correspondente ao cativeiro babilônico (587-536 a.C.). E, basicamente, toda a informação acerca desse grupo é oriunda das obras do historiador Flávio Josefo [7], dos diversos escritos dos rabinos, por volta do séc. II, e das informações contidas no Novo Testamento. Muito embora se atribua ao termo ‘fariseu’ o sentido de ‘separado’ este significado não é uma certeza. Porém, sabe-se que era o grupo mais seguro da religião judaica (At 26:5), e que surgiu por volta da guerra dos macabeus, com a finalidade de oferecer resistência ao espírito helênico trazido por Roma e que possuía, em seu interior, a intenção de preservar o judaísmo e suas crenças ortodoxas. Muito embora, que “há dois grupos terrivelmente antagônicos desses “fariseus”: separatistas e liberais. O primeiro se opunha terminantemente às influências helenísticas na Palestina [8], enquanto o segundo era favorável” .Um dos fatores que mais colaborou para a organização deste partido foi a perseguição promovida por Antíoco Epifânio. foi sob a influência de João Hircano que os fariseus passaram a desfrutar do apoio do povo em geral. os fariseus criam no livre-arbítrio do homem, na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, na existência de anjos, na direção divina de todas as coisas, nas recompensas e castigos na vida futura, na preservação da alma humana após a morte e na existência de espíritos bons e maus. Contudo, Jesus denunciou severamente este grupo por causa de sua hipocrisia e orgulho. Em linhas gerais, podemos afirmar que este grupo surgiu por uma boa razão, mas seus objetivos foram desvirtuados no decorrer do tempo, especialmente porque não se deve apenas adquirir o conhecimento ou defendê-lo, mas colocá-lo em prática. Por essa razão, o termo fariseu tornou-se sinônimo de hipócrita. Tanto que o próprio Jesus afirma: “… tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam” (Mt 23:3).Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos iniciar uma maratona de cautela e vigilância, porque a defesa da fé deve ser feita alicerçada no amor bíblico e não em bases religiosas fanáticas e desprovidas do biblicismo necessário. Por outro lado, a prática da Lectio Divina precisa ser reensinada na Igreja, para que assim o sistema eclesiástico na hipermodernidade volte a ensinar para o povo a  Bíblica aliada à vida devocional, o que nos auxiliará a não cair em um neo-farisaísmo.
OS SADUCEUS:  Era o grupo que fazia oposição aos fariseus. O surgimento desse grupo traz alguma controvérsia, pois as suas origens são desconhecidas. Alguns acreditam que deve ter surgido com Zadoque, um sacerdote do período do rei Davi. Este grupo era mais sacerdotal e aristocrático e, sendo mais fechado, não fazia questão de popularização. em 539 a.C. (período do domínio persa), até o período de Alexandre, o Grande, as famílias dos sumo sacerdotes se mostravam complacentes com os vizinhos pagãos, vivendo em harmonia com os povos helênicos. Era um grupo composto por homens educados, ricos e de boa posição social. Em geral, tinham crenças opostas a dos fariseus. os saduceus negavam a ressurreição e juízo futuro, criam que a alma morria com o corpo, negavam a imortalidade, negavam a existência dos anjos e dos espíritos, criam que Deus não intervinha nas vidas dos homens, não tinham as mesmas crenças que os patriarcas, negavam a existência do Sheol (inferno) e só depositavam a crença naquilo que a razão pura pudesse provar. De forma geral, o Novo Testamento apresenta de forma negativa um resumo da crença dos saduceus: “os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo nem espírito” (At 23:8).Com isso, percebemos que este era um grupo que interpretava as Escrituras utilizando como base os mesmos pressupostos que futuramente passaram e ser denominados de ‘humanistas’ [16], desconsiderando o caráter divino, espiritual e sobrenatural. Franklin Ferreira faz a seguinte declaração acerca da crença dos saduceus: Por isso, conclui-se que enquanto os fariseus eram os conhecedores da Escritura, mas hipócritas, os saduceus eram os líderes, mas mercenários e humanistas, no uso geral do termo. Por causa de suas atitudes venais e suas más práticas começaram a se tornar impopulares. A influência dos saduceus era grande, mas sua fidelidade a Deus mínima. A riqueza dos saduceus era grande, mas sua integridade mínima. A influência política e religiosa dos saduceus era grande, mas seu caráter era mínimo. Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos concluir que há uma profunda semelhança na sociedade hipermoderna com os saduceus, já que presenciamos uma diversidade de líderes religiosos que têm se prostituído por causa de benefícios financeiros, status e vantagens pessoais.
OS ZELOTES: Os zelotes são um grupo que se destaca como sendo o mais radical dentro do judaísmo. Foram os principais responsáveis por produzirem os levantes contra Roma, provocando a Guerra judia (66-70 d.C.), culminando na destruição de Jerusalém e do Templo. Os zelotes tornaram-se sinônimos de ‘fervorosos’, e foram os que uniram o fervor religioso com o compromisso social, assim como os sicários. Este grupo rebelde idealizava a vinda do Messias mediante uma ação revolucionária, que resultaria em sua libertação das mãos opressoras de Roma e do helenismo. o zelo por Deus e pela Lei de Deus não pode ser utilizado como características para se denominar um grupo, pois de certa forma todos os grupos judeus possuíam essa característica. No entanto, o que caracteriza os zelotes não é apenas esse zelo, tão somente, mas a manifestação desse zelo através do desejo de revolução e luta como meio de libertação. Isso é o que o faz diferente de outros grupos.
 OS ESSÉNIOS: Enquanto os fariseus se tornaram sinônimos de hipócritas e os saduceus de mundanismo, o essênismo se torna sinônimo de isolacionismo, isto é, vida separada e afastada de todos.Os essênios surgiram na tentativa de manter a instrução Escriturística viva, assim como os fariseus, mas sem a hipocrisia característica desse grupo, e a busca por uma vida de fidelidade e compromisso, diferentemente dos saduceus. os “essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus” . O problema é que eles pensavam que para se cultivar uma vida de santidade teriam que viver isolados do mundo, em um sistema de ascetismo. Basicamente, os essênios se dedicavam ao estudo das Escrituras, a oração e as lavagens cerimoniais, conhecidas. Dividiam seus bens com a comunidade e eram conhecidos por seu trabalho e vida piedosa. Existe, ainda a teoria da existência de dois grupos distintos de essênios. Nos achados do Mar Morto, os manuscritos de Qumran, encontram-se evidências de que os essênios se isolaram por desejarem abandonar as influências corruptas das cidades judaicas. Eles se dedicaram a preparar o “caminho do Senhor”, crendo que o Messias viria, e consideravam-se o verdadeiro Israel. os essênios, além de enviar suas oferendas ao templo, realizavam seus sacrifícios de forma diferente do restante dos judeus e acentuavam a importância da purificação. Por causa dessa diferenciação ritualística, os judeus os proibiram de sacrificar no templo, que os mesmos essênios afirmavam estar contaminado pela impureza da religiosidade social e judaica. Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, aprendemos que para haver uma vida de santidade e dedicação não é necessário o isolamento. A luz deve brilhar em meio as trevas e o sal deve temperar onde não há tempero.
OS SAMARITANOS:  atribui-se a origem dos samaritanos a ocasião quando Sargom tomou Samaria para o cativeiro e tentou desnacionalizá-los misturando-os com os babilônios (IIRs 17:24). Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais os outros judeus abominavam os samaritanos, considerando-os a escória da sociedade. Além disso, os samaritanos eram acusados pelos judeus de serem oportunistas, procurando ficar do lado dos judeus apenas quando estes estavam em ascensão. Este grupo era frequentemente ridicularizado e desprezado pelo restante dos judeus. Costumeiramente, os samaritanos adoravam no templo, porém, ao voltar do cativeiro os judeus os proibiram de participar da reconstrução de Jerusalém, e o genro de Sambalate, que era sacerdote, foi expulso dali por Neemias. Por não terem ‘sangue puro’, não possuir religião judaica, por serem acusados de oportunismo, porque o sacerdote (genro de Sambalate) foi expulso do convívio social e por serem proibidos de participar da reconstrução, começaram a se empenhar contra a obra que Neemias estava fazendo. Então, Sambalate construiu um templo rival ao de Jerusalém, no monte Gerizim. Ainda, para piorar a situação, desde a construção deste segundo templo, a situação entre judeus e samaritanos se agravou, e o clima de ódio e desprezo se torna cada vez maior, como nos apresenta o livro apócrifo de Eclesiástico ao afirmar que “há dois povos que minha alma abomina, e o terceiro, que aborreço, nem sequer é um povo: aqueles que vivem no monte Seir, os filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém” [19]. Sabendo que este denominado “povo insensato que habita em Siquém” são os samaritanos. Ainda, os samaritanos mantinham crenças semelhantes à dos saduceus. Apesar de todas as acusações do judaísmo contra os samaritanos, encontramos diversas passagens bíblicas, neotestamentárias, nos mostrando a pregação do Evangelho para os samaritanos (Lc 17:16; Jo 4; At 1:8; At 8:5,14; At 9:31) e até uma conduta destes que é contraposta à conduta do farisaísmo (Lc 10:25-37). Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos concluir que o verdadeiro evangelho não faz acepção de pessoas, e trata a todos de igual para igual, independente dos erros passados.
 Os herodianos: Era um grupo de judeus que acreditava na cooperação com Herodes, para haver o favorecimento dos judeus, muito embora Herodes considerasse a si mesmo um deus vivo, tentando helenizar Israel, exercendo forte pressão política sobre a nação judaica e buscando corromper os costumes judaicos. os herodianos criam ser Herodes o Messias, surgindo em defesa de Herodes para adquirir algum tipo de benefício.  “os herodianos eram um partido mais político que religioso. Eram um com os saduceus em religião, divergindo apenas em um ou outro ponto político”.os herodianos como um grupo independente e oriundo de uma ala esquerdista dos saduceus. os herodianos possuíam privilégios e regalias concedidas pelo governo de Herodes . Porém, parece que a finalidade política dos herodianos era se fortalecer o suficiente para depois se desligar do poder e dependência romana, pois havia ainda um sentimento de nacionalismo que se opunha a um poder estrangeiro. Esse grupo se colocava à disposição do governo romano, trabalhando como espiões que observavam continuamente possíveis situações que poderiam trazer problemas ao governo, como rebeliões políticas, insurreições ou movimentos messiânicos, a exemplo de Jesus e seus discípulos. Ao passo que os zelotes eram fervorosos defensores de uma rebelião, os herodianos se tornam então seus opositores. Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, perceberemos que existem, em todos os períodos de tempo, aqueles que sempre estarão dispostos a sacrificar as convicções em troca do recebimento de benefícios pessoais. Por isso, esse grupo é caracterizado por aqueles que buscam seus próprios interesses em detrimento do próximo, e o completo desapego das verdadeiras convicções e princípios, a começar pelos princípios éticos e Escriturísticos. Para estes, o que mais importa é estar ao lado daquele que lhes proporciona benefícios, pois assim poderão experimentar os resultados trazidos pela influência e status do poder.

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