SE ESTES se calarem as pedras clamarão. A passagem se refere quando da entrada de Jesus em Jerusalém, e os discípulos clamavam em alta voz: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e gloria nas alturas”; e os fariseus ficaram incomodados com esta saudação reconhecendo em Jesus o Messias Prometido (Lc 19:38-40).
A advertência de Jesus é bem apropriada para os nossos dias. Fomos chamados para testemunhar Jesus entre as nações, e uma testemunha precisa ser verdadeira no que diz, não pode ter dúvidas; e precisa viver de maneira que sua vida dê credibilidade ao testemunho.
Os anjos gostariam de ter o privilégio em pregar as boas novas aqui na terra conquistando cidadãos dos céus; mas quando chegou o momento de Deus incluir os gentios na Aliança não mandou anjos evangelizar, mas sim colocar Cornélio em contado com o apóstolo Pedro, mostrando claramente que esta missão tão honrosa passava aos homens (At 10). Os anjos continuam como fieis servos de Deus nos apoiando em nossas missões e momentos de dificuldade, sem interferir na obra de evangelização.
Contudo, individualmente não somos insubstituíveis como testemunhas de Jesus Cristo. Ele já deixou seguimentos cristãos falando sozinhos quando orgulhosos se acharam exclusivas testemunhas. Ficaram cheios de belos templos, de multidões, de programas sem fim, mas sem a mensagem redentora. Se nos calarmos as pedras clamarão. Num primeiro momento podemos dizer que as “pedras” seria a própria natureza e o universo testemunhando a Cristo: “Os céus manifestam a gloria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 19).
Na ressurreição de Jesus a “pedra” removida pelo anjo fez parte do testemunho: Ele já ressuscitou (Mc 16:1-8). Quando faltaram profetas uma jumenta falou; um rapazinho sem aparências derrotou um enorme gigante que amedrontava o povo de Deus; cinco pães e dois peixinhos testemunharam a uma multidão o poder de Deus conferido a Jesus; quando adultos se omitiram, crianças glorificaram a Jesus no templo, dizendo: “Hosana ao Filho de Davi” (Mt 21:16).
Mas numa metáfora, Jesus se referia aos gentios que como pedras estariam testemunhando. João Batista advertiu aos judeus: Não comeceis a se gloriar por serem filhos de Abraão; porque destas pedras [os gentios] Deus pode suscitar filhos a Abraão (Lc 3:8), e foi o que aconteceu. Portanto, eis o cuidado.
Mas existem “pedras que falam”. Refiro-me ao “Cemitério dos Protestantes” em São Paulo/capital. Inaugurado no dia 30 de junho de 1858, ele registra a coragem e reverencia a memória de nossos pioneiros no evangelismo pátrio. A Igreja oficial não permitia que fossem sepultados junto aos católicos, pois fora da igreja de Roma não havia salvação, e estes hereges deviam ficar separados.
E lá estão! Lápides singelas, de homens e mulheres que deram suas vidas pela evangelização do Brasil. Que fizeram a nossa história Protestante, e nos comove numa palavra de gratidão a Deus. Aquelas sepulturas dão testemunho de um tempo de discriminação, quando ser crente exigia-se muito além de portar uma Bíblia e ir a uma igreja.
Eles organizaram igrejas, fundaram instituições de ensino, disseminaram a música e a literatura. Estiveram envolvidos em lutas; controvérsias acaloradas e, às vezes dolorosas. Lá estão sepultados; Alemães, Norte Americanos, Suíços, Suecos, Dinamarqueses.
Congregacionais, Luteranos, Metodistas, Batistas, e Reformados em geral, missionários ou imigrantes, os principais líderes estão ali sepultados; dentre eles, Josué Manuel da Conceição, primeiro sacerdote católico convertido ao protestantismo. Eles foram corajosos pioneiros, e seus nomes estão gravados nas lápides. PEDRAS dando seu testemunho silencioso e inspirando outros.