AS LUTAS

“AS LUTAS vem, mas quando meu Jesus chega elas têm que sumir”. Uma bonita frase que vejo constantemente na internet e, às vezes tema de pregações, e com tanto “fervor” que leva muitas pessoas a um êxtase espiritual. Mas não é bem assim.
Vejam em relação ao culto, mesmo iniciado em nome do Senhor Jesus, mesmo sabendo que Jesus assegurou que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome Eles estaria presente (Mt 18:20); deixam de lado a Palavra e se inflamam por afirmações tipo: agora Jesus chegou e os problemas tem que sumir. Às vezes a “suposta presença de um anjo” ganha mais louvores que Jesus.
A frase é positivista e quem posta faz nas melhores das intenções, e alguns talvez tenham vivido experiências neste sentido; mas fazer disto uma regra e construir a fé nessas mensagens positivistas não é aconselhável.
Anos atrás, chegou a nossa cidade a seita oriental “Seicho-No-Ie”, de Masaharu Taniguchi, e atraiu multidões com frases positivistas semelhantes: “Somos todos filhos de Deus; somos perfeitos; não temos pecado; a doença não existe; quando perdoamos o próximo Deus também nos perdoa”. Bonitas, mas não verdadeiras.
Mesmo assim, até alguns crentes não Bíblicos foram atraídos, e eu tive que evangelizar alguns que eram apenas religiosos. Das frases citadas, a única que é Bíblica, mas geralmente mal aplicada, é a dita por Jesus na oração modelo: “perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6:12).
Jesus está se referindo aos pecados sociais, comunitários, familiares, que cometemos com pessoas de nossos relacionamentos; pois como também temos imperfeições herdadas, Deus nos perdoa na mesma medida em que entendemos e perdoamos os nossos semelhantes.
Não está se referindo ao pecado herdado que nos condena, nem aos pecados que cometemos como crentes. No primeiro caso, o pecado é sanado quando confessamos a Jesus como nosso Salvador e, tendo oportunidade, fazemos a confissão pública pelo batismo em águas. Ele risca a cédula que era contra nós (Col 2:14); ficamos justificados; livres de condenação (Rm 5:1; 8:1). Os pecados cometidos depois, como filhos de Deus, requer confissão e arrependimento à base do sangue expiador de Jesus, nosso Sumo Sacerdote (Hb 2:17).
Voltando ao tema inicial, nem sempre a bonança, riqueza, beleza, saúde, e a falta de lutas ou provações, significa Jesus Presente. Às vezes as lutas começam justamente quando Jesus chega na nossa vida. São dele as palavras: Não vim trazer paz, mas espada (Mt 10:34).
Isto quer dizer que Jesus entrando em nossa vida e em nossa casa, como fez na de Zaqueu, logo surge a necessidade de mudanças, de corrigir e abandonar coisas erradas, lucro fácil, a mentira nos negócios, e até mesmo romper laços familiares. Não falo de inimizades, mas de associações, conceitos mundanos e religiosos que precisam ser abandonados, e isso quase sempre gera conflitos.
Um exemplo disso é aquele discípulo que quando convidado por Jesus: Vem e segue-me! Argumentou que primeiro tinha que sepultar seu pai (Lc 9:59). Não que seu pai estivesse morto, mas na cultura oriental caberia a ele [filho mais velho, ou o caçula em algumas culturas], cuidar dos pais até que morresse e isto poderia levar anos. Era uma luta romper com tradições.
Portanto, nem sempre os problemas somem quando “Jesus chega”; às vezes aumentam porque a vida cristã exige renúncias e atitudes. Quando Jesus “chegou” na vida de Paulo as lutas só aumentaram; nem ele esperava uma vida sem lutas e provações; mas podia dizer: Tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4:10-13).